quinta-feira, 31 de março de 2016

As letrinhas (Tony Lopes)

Leia nas entrelinhas o que de fato está escrito
Leia as letrinhas tão minúsculas  do   contrato
Leia  e  decifre  a    receita   do   seu medico  
Leia e  entenda  a  bula do seu remédio


Malditos   sejam  os que  escrevem  por  linhas  tortas
Malditos   sejam  os   que   creem  em  palavras  mortas


Leia nas indecentes linhas da sua própria  mão
Leia as mensagens escrotas escritas pelo chão
Leia e decore o que lhe profere o alcorão
Leia e divulgue a  bíblia depois mate  seu  irmão


Malditos  sejam os que  escrevem as  novas    leis
Malditos sejam os que sabem tudo que eu não sei


quarta-feira, 30 de março de 2016

Urubus rei (Tony Lopes)

Pela carniça eles dançam
Cantam e riem
Pelas sobras eles brigam
Corrompem e traem

E depois posam de urubus rei.

Pela desgraça que semeiam
Esses profetas do caos
Culpam a sorte dos que não tem
Por todo o mal

E depois posam pros paparazzis
(Hienas que são)

terça-feira, 29 de março de 2016

Calado (Tony Lopes)

Pobre desgraça
Homens em zoológicos
Animais na praças

Pobre miséria
Homens ainda morrem de fome
Em Paris ou na Nigéria

Pobre desgraça
Homens matam em nome de Deus
De dinheiro e de cachaça

Pobre miséria
Homens duvidando do amor
E fazendo pilhéria

Tá tudo trocado
Quem devia mandar
Esta sendo mandado


Tá tudo errado
Quem agora fala
Devia ficar calado

segunda-feira, 28 de março de 2016

Amarga, a boca (Tony Lopes)

Amarga
A boca não encontra
A palavra certa
Às vezes
Aceita a desonra
Às vezes
Apenas fica quieta

Autoritária
A boca berra
Aumenta a tensão
Acusa
Assusta
Acelera
Agora quer ter razão

Abusada
A boca é amordaçada
Arrancada da discursão
Às vezes
Aceita conformada
Às vezes
Acena que basta de opressão

quarta-feira, 23 de março de 2016

Olhos crucificados (Tony Lopes)

Sofrer é exaustivo
E desmorona as fantasias
Como olhos crucificados
Que enferrujam ao tempo

Suturada ao cavo d’alma
A dor nutre a ausência
Por sua incapacidade
De enfraquecer a paixão

Perder é repulsivo
E desconstrói os desígnios
Como olhos ensanguentados

Que jamais ressuscitarão. 

terça-feira, 22 de março de 2016

Ausência (Tony Lopes)

Uma orquestra que desafina
Uma arma bem elástica
Uma orquídea pequenina
Uma atuação drástica
Aos poucos uma luz
Acentua a sua face
Alegremente me conduz
A abrir o seu disfarce
Uma plateia desatenta
Um minuto de silencio
Uma alcateia na espreita
Um extrato do que penso
Aos poucos o escuro
Acalma sem prudência
Algo que também procuro

A lucidez de uma ausência

segunda-feira, 21 de março de 2016

Eco do nada (Os elefantes elegantes/Tony Lopes)

Silêncio
Não ouço mais o batucar insano do meu coração perdedor
Apenas esse vazio a bailar por entre as frestas

Ei,
Alguém aí pode me escutar?

Silêncio
Não ouço mais meus passos trôpegos na calçada
Apenas o eco do nada a reverberar pelas paredes velhas


sexta-feira, 18 de março de 2016

Vômito (Tony Lopes)


A boca expele o que o estomago rejeita
Vertendo a ira adormecida em brasa ardente
Revelando o que não era cogitado expor
Arrancando a fórceps a raiva indecente

Lambuzando a face rubra de temor
Maculando a roupa outrora branca
Com rápidos jatos fétidos e nojentos
Assim sem culpa a outra face alcança

Vômito
Vômito
A verdade expelida sem nenhuma compaixão.





quinta-feira, 17 de março de 2016

O salvador da pátria (Tony Lopes)

Rasga a pele com raiva
Como se faz com um sushi
Dilacera a alma que sangra
Atordoada e infeliz

Serve a cabeça em uma bandeja
Coisa bem simples, de papelão
Com os restos da arrogância
Misturadas com a ingratidão

O osso pode dar ao cão
Para Que ele possa se divertir
Latir e abanar o rabo
Sorver tudo e em seguida cuspir

Depois lave as suas mãos
Remova o sangue ou qualquer sinal
Que possa produzir provas
De que foi você quem nos livrou do mal.


quarta-feira, 16 de março de 2016

A mão (Tony Lopes)

A mão que afaga
Agora afoga
Apenas magoa
E fobia

Solene
Impávida e nua
Somente observa
Não se insinua

A mão que acaricia
Agora rasga
Antes era amor
Hoje mais nada

E tremula
Segura a lâmina
Que flameja
Na carne crua



terça-feira, 15 de março de 2016

Aliança (Tony Lopes)

Nos teus dedos
Um sinal
Que os encantos
Não são meus
São de quem muito mais te ofereceu.

Nos teus medos
Um sinal
Que os prantos
Não são meus

São de quem não cumpriu o que prometeu.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Seu suor (Tony Lopes)



 Destruir apenas o que não foi erguido com seu suor
E demolir o muro invisível da inveja
Para erguer sem dó nas encostas da desgraça
Um monumento ao imbecil desconhecido

Enquanto as obras de desqualificação avançam
O progresso agride o que ainda resta
Para criar sementes de uma nova ordem
Onde a perversão é alma do conluio 

Sorrindo nervosamente apontam o dedo
Em direção à face oprimida e covarde
Dizem que os inocentes são de fato os culpados
Pela desordem acumulada na metrópole


  

sexta-feira, 11 de março de 2016

Avenida contorno (Tony Lopes)

Os olhos deslizam
Suavemente
Sobre o contorno
Da avenida
Em riscos rápidos
E concretos
Vislumbram
A beleza
Escondida
No âmago
Do seu umbigo
Fiel ao farol
Da luz
Que guia
O por do sol
Atrás de tudo
Que a cidade
Esconde

Distraidamente.

Nova escravidão (Antônio de Itapuã /Tony Lopes)


No mar de lama e lodo

No movimento lento da maré

No altar do todo poderoso

No antro onde se esconde a fé


 Nas mesmas promessas vãs
Na falta de um pedaço de pão

Nas nebulosas manhãs

Na velha e triste sensação


Nas praias apenas pros turistas

No sol que sempre quer se pôr

Nas nossas inocentes vítimas

Na nova escravidão que querem nos

 impor




quinta-feira, 10 de março de 2016

Acende a luz (Tony Lopes)


O que você espera quando acende a luz
E se afasta da escuridão
O que você encara quando acende a luz
E há um novo mundo a sua disposição

Eu já não me preocupo
Com rugas ou com formas
Eu apenas ignoro as rusgas
E me aventuro noutras normas

O que você espera quando o sinal abre
E o medo fica para trás
O que você revela quando o sinal abre
E não é você quem vai

Eu já não reparo às curvas
Nem as retas que nos separam
Eu apenas aceno

E não mais me importo se eles param

quarta-feira, 9 de março de 2016

Sofrer a prestação (Tony Lopes)

Eu não acredito em seu Deus
Você não precisa crer em mim
Nunca frequentei a sua igreja
Mesmo você querendo que sim

Não me venda essa sua fé
Que eu recuso sua oração
Melhor acreditar que sou um ateu
Que nunca está em liquidação

Eu não aceito tudo o que dizes
Porque deve existir outra razão
Prefiro pecar à vista
Do que sofrer a prestação

 

terça-feira, 8 de março de 2016

Mulheres sangram (Tony Lopes)

Mulheres sangram todo mês
Na menstruação
Outras sangram todo dia
Pela opressão

Homens sangram ou não
Mas quando sangram
Quase sempre é em vão

Não há perdão
Pros que deixam sangrar
Por omissão

Mulheres sangram todo mês
Por opção
Quando elas deixarão de sangrar
Por preconceituosas mãos?

segunda-feira, 7 de março de 2016

Aprender a morrer (Tony Lopes)

Aprender a morrer
Não deve ser fácil
Mas fazemos isso todo dia
Com o tempo

Aprender a morrer
É viver com intensidade
Sem concessões
Ou meias verdades

Aprender a morrer
Devia ser obrigatório
Nas escolas
E nas noticias dos jornais

Aprender a morrer
É nascer todo dia
Sem saber

Quando tudo vai acabar

sexta-feira, 4 de março de 2016

Esperando o coice (Tony Lopes)


A espera do coice
E da acusação
A espera do cuspe
E da humilhação

Sem julgamento
Sentenciado
Por mau comportamento
O único culpado

A espera das algemas
E da prisão
A espera das grades
E da castração

A espera do coice
E do dedo em riste
Direito negado

A quem nunca desiste

quarta-feira, 2 de março de 2016

Elogios (Tony Lopes)

Elogios
São como baganas
Apagadas
Que muitas vezes são reutilizadas

Elogios
São como hóstias
Sagradas
E por alguns devotos tão desejadas

Elogios
São como damas
Na madrugada
Que devem ser sempre admiradas

Elogios
São pontes invisíveis
E abandonadas
Mas que não podem ser ignoradas


terça-feira, 1 de março de 2016

3 antes de dormir (Tony Lopes)

Teus demônios sorriem
Sua sentença saiu:
- Você dançou!



Dormir
Dormir
Dormir...

E só acordar para ser feliz.



Se você vê demônios em toda parte, parabéns, você está no inferno.