segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Bata (Tony Lopes)


Bem vindo a minha solidão

Indestrutível aflição particular

Bem vindo ao meu desespero

Ao meu marasmo existencial

 

Venha e bata,

Bata para entrar

Bata, bata bem forte

Para me libertar 

 

Bem vindo a minha solidão

Ao meu demônio de estimação

Bem vindo ao meu torpor

Ao meu inquestionável temor

 

Venha e bata,

Bata para valer

Bata, bata no meu rosto

Até doer.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O nó (Tony Lopes)


Vou ali, desfazer o nó

Que a minha vida deu

Abrir a fórceps a gravata

Para respirar uma dose de fumaça

 

Vou ali, afrouxar o nó

Que você apertou

Acender na faca a cicatriz

Para lembrar que toda dor passa

 

Não ria

Não ria mais de mim

Eu sempre fui assim

Não vou mudar agora

Não ria

Não ria tanto assim

Se sempre foi ruim

Pra que mudar agora?

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O cabo (Tony Lopes)


 Desliga o cabo que te liga ao vazio

E vai aonde o impossível é real

Desliza a língua na língua da serpente

E sente o gosto acido do fel

Descubra os olhos e abra as janelas

E pula de onde for mais alto

Decida em que jaula vai entrar

E peça perdão pelos erros dos outros

 

Os loucos estarão do lado de fora da sala branca

Com os olhos inebriados de tanto rir

Da sua loucura

E só você saberá no final que a verdadeira dor

Não lhe pertence mais

terça-feira, 25 de agosto de 2015

É caro, eu sei (Tony Lopes)


O teu preço

Não cabe no meu bolso

Amar é caro, eu sei

Precisa de conforto

 

O teu preço

É o meu calabouço

Amar é raro, eu sei

Está escrito no teu rosto

 

Vagando

A procura do que desejo

Nas esquinas escuras

Não é amor o que vejo

 

Perdido

Na loucura do que almejo

Nas partes duras

Deste amor que versejo

 

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O prato (Tony Lopes)


A comida que sacia a minha fome

Vem do resto do seu prato

Da sua arrogância

De seu bom gosto alimentar

 

Vem temperado com desprezo

Salpicado de amargor

 

A comida que engana a minha fome

Vem da raspa do seu tacho

Da sua ignorância

Do seu desgosto de amar

 

Vem recheado de orgulho

Temperado com dor

 

 

 

 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Velha porta (Tony Lopes)


Se o meu nome não abre nenhuma porta

Atrevo-me pela fechadura

A espiar os teus melhores pecados

E a tua enorme loucura

 

Daqui do outro lado da mesma porta

Que continua fechada

Imagino que podia ter teus gemidos

E a tua beleza roubada

 

Bato três vezes mais na tua velha porta

Trair-me sempre foi sua virtude

Mas agora espero pelo perdão

Para poder fazer o que antes não pude

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Feroz (Tony Lopes)

Feroz
O cão rosna
Olhos
Fixos na presa

Rancor
Fúria e ódio
Rancor
Fúria e ódio

Feroz
O cão salta
Dentes
Presos na presa

Horror
Ira e raiva
Horror

Ira e raiva

Um animal
Clamando justiça
Um animal
Fazendo justiça

Botas (Tony Lopes)


Desfaz-se das botas
Que aqueceram e protegeram
Teus pés

Deixa o aroma da caminhada
Impregnar a sala

Fica descalço
E livre
De tudo

Os passos ficarão guardados
Na sua memória

E as solas vão reter o que restou
Do pó da estrada

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Mudanças (Tony Lopes)


Algumas pessoas mudam de nome

Mudam de roupa Mudam de lado

- Algumas pessoas reescrevem o próprio nome

 

Algumas pessoas mudam de sexo

Mudam de corpo Mudam de alma

- Algumas pessoas invertem um possível complexo

 

Algumas pessoas não abaixam a cabeça

Quebram o cabresto e o cabaço

Desatam qualquer laço

Para achar uma versão com que mais se pareça.

 

Insatisfeitas

Outras pessoas fraquejam

Deixam passar

Recusam-se a tentar mudar a própria historia

 

 

 

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Sem caráter (Tony Lopes)


Covarde Calhorda Cínico

Sem caráter

Cupincha Canalha Cafajeste

Sem vergonha.

 

Ao teu lado, ele sorri

Riso de um velhaco

Riso de um traidor

Pelego, Pilantra, Pulha.

 

- Para ele

Só uma coisa a dizer:

F O D A - S E!

 

Obs. Isso é uma obra de ficção. Porem, qualquer semelhança com pessoas reais é verdadeiro.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A dor dos outros (Tony Lopes)


Eu queria sentir a dor do boi

A caminho do abatedouro

Gritar como um porco

No momento do abate

 

Eu queria sentir a dor dos outros

E a força do nó na hora da forca

Ser o peito que abriga as balas

Do pelotão de fuzilamento

 

Eu queria sentir a dor dos que tem fome

Dos que não tem casa

Roubar a dor dos que estão doentes

Dos que foram condenados

 

Eu queria sentir a dor dos que desistiram

Dos que foram traídos

Carregar as chagas e a dor que nunca abranda

E que jamais irá ter cura.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O Pão (Tony Lopes)


De tanta fome
Comeu até o pão
Que o diabo
Amassou
Mas antes
Rogou aos céus
Pra que Deus
Pudesse multiplicá-lo.

E hoje é o dia de decidir
A qual senhor irá servir:
O que lhe deu o pão
Ou o que lhe ensinou a repartir.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Faróis (Tony Lopes)


Os faróis que iluminam a noite

São olhos ferozes

Felinos

A procura de abrigo

Algozes que são

Do próprio desatino

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Amém (os elefantes elegantes/Tony Lopes)


Eu sou a fé
Injetada
Na sua veia

Sou a doutrina
E a disciplina
Que lhe impõe

Sou a sua esperança
E o dízimo
É o meu preço


Eu sou a fé
Corrompida
E Prostituída

Eu sou a indecência
Exposta
No altar

Um pseudo santo
Prometendo
O que não tem (possui)

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Perdendo a cabeça (Tony Lopes)


Quando a minha cabeça

Tiver de rolar

Prefiro guilhotina

Pois já estou acostumado

A perdê-la.

 

Forca não, eu não gosto

Aperta o pescoço

Como uma gravata

É cafona

E me tira o ar.

 

Já sofri tanto tempo

Aprendendo a respirar

Que agora já acostumei

A inflar o pulmão

E recusar sempre pedir perdão,

Isso não.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Churrasquinho (Tony Lopes)


Eu vou roubar teu coração
Para fazer um churrasquinho
Vou colocar num espeto
Deixar ele bem vermelhinho

Vou sorver cada pedaço
Com pimenta e muito carinho
Depois fazer a digestão
E te devolver bem durinho

Vamos ser um só
Nas chamas dessa paixão
Hoje eu te como
E amanhã rezo na cremação

 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Finalizando (Tony Lopes)


Perdendo os dentes

E algumas mulheres

Perdendo o respeito

E muitas lembranças

 

Sorrindo das desgraças

Blasfemando nas praças

Expondo todos os defeitos

Como fazem as crianças

 

Tropeçando na sombra

Se assustando no espelho

Vigiando o tempo

Desfazendo o novelo

 

Perdendo parentes

E velhos parceiros

Perdendo o bom senso

Quebrando as correntes

 

Tripudiando dos fracassos

Inventando compassos

Fingindo ser feliz

Como fazem os dementes

 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Noite suja (Tony Lopes)


Para aplacar a minha sede insana

Bebo agua da privada

Beijo a boca do capeta

Brigo até ir em cana

 

Para aplacar a minha fome funesta

Como ratos do esgoto

Beijo a boca de um santo

E rastejo na sarjeta

 

Para aplacar o meu tesão alucinado

Atiro em qualquer direção

Beijo a boca da morte

Bajulo puta e viado.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Olhos de Saramago (Tony Lopes)


Os olhos de Saramago veem o que a alma guarda

Na estante sombria da ignorância

Eles viajam nas estradas sinuosas de Kerouac

Entre solos de sax e vestígios de esperança.

 

 -Transformar o impossível em palavras

 E lapidar a dor com elegância.

 

Assim falou a voz que arrombou a noite insone

Entre doses e doses da única coisa que cura

Que alguns acham ser o uísque

Mas que na realidade é apenas “Amor”

 

 


 

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Essa canção é de amor (Tony Lopes)


Essa é uma canção de amor
Aos desesperados
Um recado aos corações
Recalcados

Isso é um chamado
Um verdadeiro tratado
De boas intenções

Essa é uma canção de amor
Aos desavisados
Uma flechada nos corações
Abandonados

Isso é para ser televisionado
Para invadir as redes
E todas as outras conexões

Essa é uma canção de amor
Aos apaixonados
Um bálsamo nos corações
Tantas vezes magoados

Para que enfim sirva de lição
Que se é amor ou paixão
Serve em todas as direções