quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Rito de passagem (Tony Lopes)


Não tenho mais medo dos gritos
Das surras ou das ameaças
Não tenho mais medo dos mitos
Nem dos ritos de passagem
Eu já passei por tudo isso
E sobrevivi
As duras penas e aos cacos
Mas sobrevivi

Não tenho mais medo de perder
O que nunca me pertenceu
Não tenho mais medo dos olhos
Que são maiores que os meus
Eu já passei por tudo
E perdi
Tudo que um dia achei que era meu 
Eu perdi.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Injustiças (Tony Lopes)

Por trás da mascara de gás
Um rosto anônimo
Um brado retumbante
- Acabou a sua paz

Em meio aos disparos
Não paro
Vou lutar por quem
Sempre pagou BEM caro

Por tantas injustiças!
Por tantas injustiças!
Por tantas injustiças!


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Na pista (Tony Lopes)


Derrapando na pista Com seus pneus carecas Sem diminuir a velocidade Nem obedecer às placas Atrás do ultimo por do sol Apenas Seguindo a rota desconhecida E perigosa Acelerando Até perder de vista O que deixou pra trás
Acelerando Até riscar da lista Tudo que não deseja mais

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Trono de louça (Tony Lopes)


 Sentado no meu trono de louça
Tecendo versos a solidão
Cercado por invisíveis desejos
Despejando restos da perdida ilusão

O olor no ar povoa meus pesadelos
Medonho o reflexo naquele chão
Perplexo exala o que não me cura
Puxar a corda será a única solução

Agora boiam na agua infecta e suja
Os dejetos que não foram em vão
Eles me ferem com seus vermes mortos
Não sobrevivi, mas eles também não.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Fé nunca mais (Tony Lopes)

Pedi a Deus E a todos os santos
Aos orixás De todos   os cantos

Pedi a   Maomé   E  também   a  Buda
Pedi aos céus Por qualquer ajuda

Removi montanhas Abri o mar
Destruí exércitos Subi no altar

Fiz sacrifícios E até Vodu
Vários pactos no Norte e no sul

E tudo que eu queria Sem conseguir
Era ter seu amor E te fazer feliz

Fé                                 nunca               mais!
                                nunca               mais! 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Provérbios do fim (Tony Lopes)

O fim é o começo do poço
A sede nasce no esgoto
O velho é o novo de novo
A justiça apenas um engodo

O forte é um outro gordo
O magro é o velho morto
Amor só a conta-gotas
O ódio atrai mais desgosto

A rima reduz o sentido
Piada só enrustida
O funk é o novo erudito

E a verdade a velha mentira

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Boas notícias (Tony Lopes)

Boas notícias
Não chegam em telegramas

Elas preferem bailar
Como borboletas lisérgicas

Boas notícias
Não aparecem no facebook

Elas preferem rir
Como elefantes no cio

Boas notícias
Não viram manchetes de jornais

- não mais.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Olhos no chão (Tony Lopes)

O vazio é o meu céu
Olhos grudados no chão
Estrelas são como baganas
E a dor a única ambição

No descompasso da angustia
Olhos beijando a solidão
Ajoelhado agora imploro
Rastejando como um cão

O amor me abandonou
Olhos embaçados de ilusão
Nem com espinhos envenenados
Desfibrilarão o meu coração




sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Pseudo reggae (Tony Lopes)


Arrasta
A tocha, Rasta
E vai
Vai onde a dor
Ainda arrasa
Teu povo

Arrasta
A tocha, Rasta
E vem
Vem onde o amor
Pode dizer basta
Ao opressor

E envolve tuas longas tranças
Nas tranças de quem te quer amor

E une a tua grande força
A quem ainda tem fé...

No reggae!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A valsa de Chet Baker (Tony Lopes)

Lascívia computadorizada
& processada nas nuvens
Tempestuosas

Chet Baker invadindo
Tímpanos & trompas
Uterinas

O amor é demoníaco
& vicia

- Nua a alma afasta-se do corpo

Beats gemem alucinados
Todos dançam a valsa
Voluptuosa

Chet Baker urra
Dentro de você
& de nós

O coração é um sax
Cretino.


- Nada acalma além do gozo





 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A caixa (Tony Lopes)

Aberta a caixa
De mensagens
Vê-se exposta
Ali
Algumas verdades
Mas nada
Que
De fato
Seja relevante
E necessário
Para
Voltar a fecha-la


terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Desarmonia (Tony Lopes)


Não havia
Segurança
Para o
Segurança

Que em Desarmonia
Dançou.

Tenho medo (Tony Lopes)

Tenho medo do futuro
Mas não é esse medo
Que irá me deter
Tenho medo do escuro
Mas não é esse medo
Que me impedirá de ver

Seguirei  pisando cambaleante
Em cima do muro
Que divide o que tenho

Com aquilo que procuro

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Dor de verdade (Tony Lopes)

A minha memória não é confiável
Nem acumula informações
A dor de ontem só doeu ontem
Mas aceito sugestões

Às vezes lembro-me do que doeu
E dói uma vez mais
Noutras nem penso que aconteceu
Para sofrer em paz

Minha memória é uma gaveta
Com fundo falso
Quando tento encontrar algo
Tropeço no meu próprio passo

Às vezes esqueço-me do que doeu
Pra sofrer apenas com a realidade
Noutras eu penso que é melhor
Ter uma nova dor de verdade

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Geme geme (Tony Lopes)

A cabeça aberta da caverna grita
Explícita
O que só se ouve fora daquela gruta
Escura

E geme
Geme geme geme

A cabeça ereta atenta e aflita tenta
E enfrenta
O que agora urge naquela luta eterna
Pelo jorro

E geme
Geme geme geme

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Entendendo a felicidade (Tony Lopes)

Não consigo perceber a felicidade
Do pedinte ao receber uns trocados
Nem vislumbro ali                                               algum sinal de que algo vai mudar

Migalhas não consertam o mundo
Esmolas não abrandam as culpas

Não consigo perceber a felicidade
Naqueles olhos solitários e confusos
Nem vislumbro amor                                                      em quem já deixou de acreditar

Migalhas não ocupam corações
Esmolas não estancam feridas

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Punhais (Tony Lopes)


A cidade está arrasada

Suas paredes vestidas com trapos

Que envolvem as praças desnudas

E as ruas feitas de farrapos

 

A cidade jaz em ruinas

Com muros criminosamente despidos

Que se perdem nas esquinas imundas

E flutuam como viadutos perdidos

 

A cidade cai e sangra

Nas sombras da sua incapacidade

Na vergonha dos seus projetos

E dos tapumes que escondem a verdade

 

Agora os carros invadem sem cerimonia

Os sinais

E atravessam as silenciosas avenidas

Como punhais