sexta-feira, 29 de julho de 2016

Marimbondo (Tony Lopes)

Casa de marimbondo
Longe do abandono
O risco

Mas, não mexa com quem você não conhece.

Casa de marimbondo
Apesar do incômodo
Arrisco

Não mexa onde você
não conhece.



quinta-feira, 28 de julho de 2016

2x1 (Tony Lopes)


Não pense que é fácil
Fácil é quando você não pensa.


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxXXXXXXXXXXXX

Se não tem mais jeito
Mete o dedo
No gatilho
E atira

Se possível acerte o peito
Pois o medo
É um defeito
Da mira

quarta-feira, 27 de julho de 2016

O pecador (Tony Lopes)


Já provei do fruto proibido

Já comi da banda podre da maçã

Provei do pão que o diabo amassou

Mas a minha fome não saciei

 

Já fiz pacto com deus e com o diabo

Já rezei e já joguei pedra na cruz

Cuspi no prato que comi

Amei muito e também já odiei

 

Já cortei meus pulsos

Já fiz roleta russa

Pulei de um precipício

Cai em ciladas que eu mesmo armei

 

Já fiz tudo errado tentando acertar

E quando acertei parecia que era melhor errar

Fui em frente tantas vezes

E sempre pro mesmo lugar eu voltei

terça-feira, 26 de julho de 2016

Coração de vidro (Tony Lopes)


Que sorte

Que meu coração não é de vidro

E pode aguentar o tranco

E as pancadas

 

Eu sei

Às vezes ele trinca e quase racha

Noutras corre assustado

E apressado

 

Que bom

Que meu coração não é de vidro

E pode resistir ao tempo

E as dores

 

Eu sei

Às vezes ele quase para

Pulsando bem devagarinho

Como quem espera uma boa noticia

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Vida besta (Tony Lopes)


Todos os dias eu morro

Para ressuscitar amanhã

Todas as manhãs eu corro

E não chego a lugar nenhum

Eu sigo sempre o rebanho

Se reclamar eu apanho

Nem o pão eu ganho

E não grito, pois sou fanho.

 

Todos os dias eu mato

Para não morrer amanhã

Todas as manhãs eu confesso

E não tiro proveito algum

E sigo sempre o rebanho

Eu só tenho o que ganho

E ainda dizem que sou tacanho

Então aceito senão apanho.

 

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Desligue o aparelho (Tony Lopes)

Trancado neste quarto frio
O que resta de vida está por um fio
Pouco há
Pouco ar para respirar
Nem posso mais olhar para o espelho   
- Por favor, desligue o aparelho.

Largado neste leito vazio
Onde nem um pensamento mais eu crio
O que há
Não consigo gritar
Queria ao menos lhe dar um conselho
- Por favor, desligue o aparelho.

Todos os olhos que me olham parecem mortos
Não veem o que eu posso ver
Estou preparado para fugir desses fios tortos
Basta que me deixem nascer.


(Nada mais parece solitário   morrer é nascer ao contrario)

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Estrada perdida (Tony Lopes)

Procuro sinas na estrada que me perdi
A lua esta lá e eu não sei onde estou
Vejo vacas perdidas assim como eu
E a luz do farol ilumina o que não sou

Parece um pesadelo, mas é bem pior
Os carros passam e só deixam a poeira
Acelero o que posso e não passo ninguém
No fundo eu sei que perdi a estribeira

Vagalumes são anjos
Mas não podem me guiar
Nessa estrada perdida

Que não me leva a nenhum lugar

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Todas as letras do EP Puta B.O.C.A> santa

Boca fechada (Heitor Dantas/Tony Lopes)

 
A boca aberta engole o lodo

Ejaculado

Abrupta a sede estanca o nojo

Camuflado

 

E quieta aceita a regra imposta

Sem reagir

Pois não vale nem a própria bosta

Que irá expelir

 

Amedrontada e em vigília

Vela a si mesma envergonhada

Fruto do seu próprio receio

Agora não pode mais dizer nada

 

E cheia de excrementos e injurias

Espera pelo fim calada

Para quem sempre se omitiu

Nem mesmo a ultima risada


 

No abandono (Heitor Dantas/Tony Lopes)

  
A beleza se esconde no abandono

Do jardim das flores mortas

Entre as duvidas e certezas

Nas frestas de algumas portas

 

A beleza sempre perde sua rota

Nos espelhos que se quebram

Na poeira dessas estradas tortas

Que aos poucos se revelam

 

A beleza se sepulta nas sombras

Dentro de alguma cova rasa

Onde o tempo lhe assombra
Por nunca retornar a mesma casa.                                                                


 

 
Pai & mãe (Heitor Dantas/Tony Lopes)

Não sei quem ejaculou
Na boca do esgoto
Nem de quem é o ventre
Que abrigou esse escroto

Não sei quem cuspiu
E arrotou tanta arrogância
Nem sei quem pariu
O fruto da ignorância

Quem é o pai desse inseto?
Desse verme rastejante
Quem é a mãe do infecto?
Desce pústula ignorante

Não sei quem errou
Ao criar esse crápula
Nem quem vai juntar
Essa merda com espátula

Não sei quem fugiu
Ou que fingiu não ver o estrago
Nem quem escapuliu
Antes do último trago

Pirulitos lisérgicos (Heitor Dantas/Tony Lopes)

 Pirulitos de ácido Lisérgico 
Rodopiando 
No céu
Da sua santa
Boca


Pirulitos de aço Cirúrgico 
Penetrando 
No anel
Da sua puta
Boca


Doce  Levemente doce
Adoravelmente doce

 ... E áspera

Amém (Tony Lopes)  

Eu sou a fé
Injetada
Na sua veia

Sou a doutrina
E a disciplina
Que lhe impõe

Eu sou sua esperança
E o dízimo
É o meu preço


Eu sou a fé
Corrompida
E Prostituída

Sou a indecência
Exposta
No altar

Um pseudo santo
Prometendo
O que não tem 

 

terça-feira, 19 de julho de 2016

Incertezas (Tony Lopes)


Onde ontem era incerteza
Hoje continua confuso
Subo e desço numa rotina circular
Como uma roda gigante do inferno

Amanhã mais incertezas
Grudadas na minha alma
Segurando meus pés
Nessa poça de areia movediça

Agora é o céu quase azul
Depois as trevas
Sem ter alguém pra confiar
Ou para segurar as mãos

Vejo deus e o diabo
No reflexo da minha lucidez
Circulando as minhas neuras
Costurando as minhas vísceras

Sangro e deixo pistas do meu futuro incerto
Todos riem no parque de diversões
Menos quem sabe o que esta acontecendo

No trem fantasma do destino

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Cleptomaníaco (Tony Lopes)

Cleptomaníaco,
Seus olhos brilhavam
Ao ver as palavras que escrevi
Iluminando as páginas
Que agora ele crer serem suas

Aquelas palavras esculpidas no papel
Que ele nunca escreveu
Tão pessoais e intransferíveis

Esse é o tempo perfeito
Pros que acham um jeito torto
De ter o que não lhes pertence

Não é um bandido qualquer
Se diz um cleptomaníaco
Ladrão dos sonhos alheios
Insuspeito senhor das mentiras
E das palavras roubadas

Esse é o tempo perfeito
De conjugar alguns verbos
Que ele nunca conjugou
Que ele nunca conseguirá conjugar.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Amargas lembranças (Tony Lopes)

Tuas fotos amareladas
Dividem espaço
Com as traças

Ainda recordo do seu gosto
E as lembranças
São amargas

Que elas tenham melhor sorte
E possam saborear
Algo bom de ti

quinta-feira, 14 de julho de 2016

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Em partes (Tony Lopes)

Cada pedaço da engrenagem
Cada peça do quebra cabeça
Cada parte que me cabe
Cada banda da maçã
Cada lado dessa viagem
Cada ângulo da visão
Cada pista que eu sigo
Cada risco que eu corro

Cada quadro na parede
Cada gota da minha sede
Cada giro do relógio
Cada mensagem cifrada
Cada rua que eu passo
Cada casa que eu vejo
Cada flor de um jardim
Cada imagem que refaço

Todas juntas formam algo
Meio azedo meio torto
Todas elas completam um álbum

Meio vivo meio morto

terça-feira, 12 de julho de 2016

Natureza morta (Tony Lopes)

A cabeça do Frankstein
É um quadro de Van Gogh
Com dois parafusos tortos
Fixando-o na parede

Um monstro de lata
Surreal como um Salvador Dali
Insinuante e estrábico
Vestido de seda pura ou de brim

Na galeria explícita da avenida
Os maltrapilhos olham
Como se o bigode de Picasso
Fosse parte da inútil paisagem

E se ele não ri como a Monalisa
Deve ser abstrato e rude
Porque a ninguém é dado o direito
De contrariar Da Vinci.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Estou cansado (Tony Lopes)

Estou cansado
Extenuado                         Morrer deve ser um descanso
Mas não quero descansar

Estou vagando
Desgovernado
Sem perceber que me canso
Por não arriscar

Deve haver vida em outro planeta
Deve haver alguma saída
Água e pão
E outra alma pra dividir a solidão

Em outra esfera
Noutro sistema solar
Em algum lugar
Onde ainda vou pousar

Não vou desistir
Eu ainda vou para lá
Para aquela estrela
Que acabou de piscar