sexta-feira, 29 de abril de 2016

Terra seca (Tony Lopes)

Estou faminto e com sede
Essa seca estacionou na plantação
O sertão na cabeça
E a cabeça do gado morto pelo chão

Por uma gota d'água eu rezo
Mas as lágrimas só vem no caminhão
O perdão é uma promessa
Que quase ninguém tem no coração

Essa terra não sai mais de mim
Mas os pés empoeirados não seguirão
A tristeza perpetua-se em vômitos
E neles regozijo a fé e a perdida ilusão

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Mudo (Tony Lopes)

Já não fala, perdeu a capacidade de dizer
Nem quer mais falar, prefere se omitir
Abandonou voluntariamente as palavras.

Não consegue mais se expressar
Emudeceu-se
Impossibilitou-se de emitir sons.

Está mudo
Calado
Sem voz, por opção.


quarta-feira, 20 de abril de 2016

A dor é um rio (Tony Lopes)


A dor é um rio solitário
E morto
Abandonado e triste
Tal qual um mero esgoto

Acúmulo de desmantelos
Braço do descompasso
Berço sem filho
Barco sem porto

A dor é esse rio de lágrimas
E lama
Que mesmo ignorado insiste
Em procurar o mar que ele tanto ama

terça-feira, 19 de abril de 2016

Do mato (Tony Lopes)

Ei, eu sou do mato
Sou da selva
De concreto e asfalto
Ei, eu sou selvagem
Sou quem nega
O que reprova o meu olfato

Sou dos bichos
Das bichas
De quem me tem amor
Sou das fêmeas
Dos mecenas
De quem pede por favor

Ei, eu sou um animal
Sou quem uiva
Em extinção
Ei, eu quero a sombra
Desses prédios
Na contramão.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Ela, a tristeza (os elefantes elegantes/Tony Lopes)

A tristeza navega
De sol a sol

Sem pressa
Lenta e trôpega
Cavalga

A tristeza espera
O fim da noite

Sem dar tempo
Da lagrima
Deslizar na face

E no giro quase insano
Dos ponteiros
Ela, a tristeza
Apenas espera
Só.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

Apagar a luz (Tony Lopes)

Movendo tempestades
Com os olhos tortos
Atirando facas invisíveis
Na contra corrente dos mortos

Modificando cidades
Com a mente atormentada
Adicionando farsas risíveis
Nos embrulhos cheios de nada

E me lembrar de no fim do túnel,
Apagar a luz
Que alguém esqueceu
Acesa.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Dos Santos (Tony Lopes)

Muitas bocas amordaçadas
Muitas almas aos prantos
Muitas pessoas ajoelhadas
Pois aqui todos são santos

As mentiras estão expostas
E as verdades pelos cantos
Muitos pactos e promessas
Mas aqui todos são santos

Acusações sem fundamentos
E os inocentes nem são tantos
Só está salvo quem tem grana
Porque aqui todos são santos

Eu não te engano
Também tenho meus planos
Então não se engane
Porque eu sou um dos santos

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Do contra (Tony Lopes)

Sou contra todos
Contra não importa quem
Sou contra o estabelecido
Contra tudo e contra ninguém

Sou contra quem é contra
Contra quem é a favor também
Sou contra quem dúvida
Contra quem sempre diz amém

Se você é do contra
Sou contra você também
Sou contra o que acredito

Contra o que nem sei tão bem

sexta-feira, 8 de abril de 2016

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Punk solidão (Tony Lopes)


Punk
Essa
solidão
Se
arrastando
Nos
escombros
desses
dias
Infestados
De
ausências
&
Angústias
&
silêncio.


 

terça-feira, 5 de abril de 2016

Brado (Tony Lopes)

O teu silencio não me incomoda
Mas a sua ira é indigna
E a tua palavra
Inútil.

O teu brado não me amedronta
Mas a sua cólera te cega
E emudece tua voz

Imunda.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Cifrões (Tony Lopes)

Atravesso vesgo o verso e sigo torto
O destino que eu mesmo propus
Nem sua boca pode inverter o rumo
Do equivoco que me afastou da luz

Ainda tonto troco o nome do fracasso
Por outro que ainda não escolhi
Nem os ventos fortes conseguem afastar
O dilúvio que está por vir

Sobrevivo como um tolo qualquer
Sem temer pedras, pregos ou espinhos
Carregando no peito a cruz
Sem os cifrões que obstruem os caminhos


sexta-feira, 1 de abril de 2016

Tudo gravado (Tony Lopes)


Tudo que eu falo só será verdade se estiver gravado
E eu posso a qualquer instante negar tudo que foi divulgado
O que importa não é o que falo e sim onde eu mando o meu recado
E num estalo de dedos todos os segredos logo serão revelados

Alguém aponta o dedo e diz que o que eu disse está errado
Eu quero provas, pois o que eu disse está muito bem gravado
Mas se por uma razão qualquer eu quiser tudo será negado
E o processo num passe de magica logo será arquivado

Talvez um dia algum inimigo ache melhor escolher o meu lado
E antes disso eu quero ter certeza de que tudo foi guardado
Porem se por um engano um juiz um pouco cínico e dissimulado
Refizer os  seus planos o meu discurso  voltará  a ser investigado