quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Perdido (Tony Lopes)

Não tenho mais para onde olhar

As planícies sumiram...

 

Longe dos meus dedos sujos

E da minha sede

Apenas um deserto enorme

Repleto de pesadelos

Que avançam com suas rodas

E apetite voraz.

 

Não tenho mais para onde ir

As ruas encolheram...

 

Perto das minhas unhas podres

E da minha fome

Apenas um barulho gigante

Abotoado ate o pescoço

Como uma camisa de força

A me deter.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Não vale nada (Tony Lopes)

A minha vida não vale um filme

Nem um livro

Ela não vale uma musica

Nem um poema

A minha vida não vale nada.

A minha vida não vale um romance

Nem uma comedia

Ela não vale um comentário

Nem um rabisco

A minha vida não vale nada.

A minha vida não tem roteiro

Nem métrica

Ela não tem melodia

Nem tem rascunho

A minha vida não vale nada.

A minha vida não vale um centavo

Nem um trocado

Ela não tem preço

Não esta tabelada

A minha vida não vale nada.

A minha vida não vale um beijo

Nem um abraço

Ela não vale um adeus

Nem um aceno

A minha vida não vale nada.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Cara do cara (Tony Lopes)



 A cara do cara dá de cara com a cara do cara no espelho fosco

De cara com a cara do cara que aparece quase clara no espelho tosco

Repara de cara que a cara do cara que reflete na cara do cara

Não rara é a cara do cara que repara a cara do cara no espelho torto

E nada que a cara do cara repara reflete a cara do cara que dispara

Na cara do cara que não para de olhar a cara do cara no espelho morto

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Depois do fim (Tony Lopes)


Vejo logo ali depois daquele prédio velho indícios do fim

Entre escombros e restos estão guardados os segredos

Que pouco a pouco irão se revelar.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Tempestade (Tony Lopes)


Onde você estava naquela tempestade

Em que lugar nenhum era seguro

De quem eram aqueles braços que te aqueceram

No meio daquele tempo escuro

 

Se a chuva inundou toda a cidade

Imagine o estrago que minhas lagrimas causaram

Se o medo se infiltrou como verdade

Imagine o mal e a dor que a sua ausência provocaram

 

Onde você deixou sua vaidade

Pra fingir não ser você quem se importa

De quem são as botas que te levaram

Para tão distante da minha porta

 

Se a chuva alagou o meu coração

E misturou a dor com a solidão

Me diz pra quem são teus olhares quentes

Que antes sempre estavam tão presentes

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Peixes que brigam (Tony Lopes)

Adoro peixes que brigam
Em aquários repletos de saídas estranhas
E de curvas perigosas.
Adoro peixes que brigam
Em auditórios cheios de imbecis
E de pessoas asquerosas e sordidas.
Adoro peixes que brigam
Sem medo de enfrentar as cores e o caos
Com seus olhos envidraçados.
Adoro peixes que brigam
E vivem no limite exato do prazer e do ódio
E seguem nadando contra a corrente.
 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Quem é você? (Tony Lopes)


Para que serve um canalha

E um déspota?

Pra que serve um calhorda

E um escroque?

E você?

Pra que você serve????

 

Para que serve um herói

E um bom moço?

Pra que serve um padre

E um crente?

E você?

Pra que você serve?

 

Quem você acha que é um canalha?

Quem você acha que é um déspota?

Quem você acha que é um calhorda?

Quem você acha que é um escroque????

E você?

Você é algum desses???

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mal maior (Tony Lopes)

Por onde andam as baratas que não as vejo mais
Mesmo quando deixo sobras de comida pelo chão
Onde estão os ratos que saiam sorrateiramente dos buracos
Ao menor sinal de um restinho de queijo
- Parece que eles me deixaram só a esperar pelo fim dos dias.
 
Por andam as formigas que habitavam o pote de açúcar
E corriam distraidamente pela mesa do jantar
Onde estão as moscas impertinentes que voavam ao nosso redor
E depois pousavam sem cerimonia no nosso prato
- Parece que eles me deixaram só a refletir sobre o futuro.
 
E não me venham falar de homens muito parecidos com insetos
De pessoas que agem como se fossem ratos
E que rodopiam como dançarinos loucos na nossa frente
 
Eu sinto falta dos animais rastejantes e minúsculos
Que apenas nos faziam temer o escuro da noite
Como se não houvesse um mal maior.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Dias escuros (Tony Lopes)

Num céu azul claro

Um risco negro define a direção

(Não mais gaivotas

Ou aves de rara beleza)

Agora são as nuvens densas

Que navegam sobre nossas cabeças

Deixando pistas e rastros

De destruição e dor.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Excomungado (Tony Lopes)

Sou um excomungado
da sua religião
e a fé eu encontro
em alguma liquidação
mas a minha alma já tem preço
é só pagar mais de um milhão
 
sou um excomungado
sem direito a oração
mesmo de joelhos
nunca obtive o perdão
mas a minha alma já tem jeito
é só pagar mais de um milhão
 
diga qual é a sua crença
e quanto custa a salvação
vendo minha alma pro diabo
e compro a paz da sua religião
mas não precisa ter muita pressa
para pecar e ter satisfação.