quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Despida (Tony Lopes)


Baby
Arranque as unhas
Retire os cílios postiços
Desfaça o botox
Remova o silicone
Raspe o cabelo
Mostre as suas estrias
 
Eu quero te ver nua
Despida das fantasias
Quero te ver autêntica
Sem máscaras ou maquiagem
 
O mundo só quer rir de você
Eles só querem te vender
E o preço que você precisa pagar
Eles nunca vão te devolver

 

 

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Amor em braile (Tony Lopes)



Ainda faço parte do time dos românticos incuráveis
Dou bom dia nas manhãs
Mando flores e maçãs
Abro a porta do seu carro
E até acendo o seu cigarro.
 
Sonho todo dia como fazem os românticos incuráveis
Ouço musicas suaves
Sempre faço as pazes
                                Ligo pra saber se está tudo bem
Peço a deus que você me queira também
 
Mas ainda frequento o clube dos corações solitários
                        E fico sentado por todo baile
              Esperando por um aceno
                                      Por algum gesto pequeno
             Que me faça sentir o amor em braile.
 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Das sobras (Tony Lopes)

  
Vivo das sobras
Nas sombras
Rastejando
Com as cobras
 
Vivo de esmola
Um pedinte
Enganando
Quem me consola
 
Vivo porque quero
E quero pouco
Como um louco
Nem troco espero.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Acabou (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)


Mate o inocente que habita o seu corpo
Retalhe-o e jogue-o no lixo
Não há mais tempo para errar
Perceba que o inimigo te ameaça

Mate o idiota que comanda a sua vida
Ria da sua insensatez
Não dá mais tempo para consertar
O que já nasceu em desgraça

Mate o canalha que te encara no espelho
Rasgue a sua história
Não há mais tempo para recuperar
O que o tempo te tomou na raça




sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Os vícios (Os elefantes elegantes/Tony Lopes)



                                             São os vícios que impulsionam
 Os nossos desejos
 Por eles derrubamos barreiras
 E saltamos de penhascos
 
São os vícios que sustentam
 As nossas vontades
 Por eles atropelamos a lógica
 E desfazemos os dogmas
 
São os vícios que alimentam
 As nossas crenças
 Eles acordam nossa fúria
 Arrancam-nos da inércia
 
São os vícios que demostram
 As nossas fraquezas
 E por eles podemos lutar
 Para modificar a nossa maldição.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Os excessos (Tony Lopes)


Os excessos eu guardo no bolso

Junto aos cigarros

E a um pedaço de papel

Com o numero do seu telefone

 

Os excessos eu largo no chão

Perto do esgoto

Em frente a uma casa

Que muito bem pode ser a sua

 

Os excessos eu ponho na boca

Para alimentar minha fome

Que nunca sacio

Mesmo lhe tendo por perto

 

Os excessos eu deixo no bar

Ou na igreja

E fico esperando solitário

A madrugada acabar

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A chegada do medo (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)


 
Quando o medo chega
Traz a certeza do perigo
A urgência da fuga
A necessidade da fé.
 
Quando o medo chega
Arregalam-se os olhos
Enrubesce-se a pele
Juntam-se as mãos
 
Quando o medo chega
Traz com ele a certeza
De que não há mais tempo
Para temer.

 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Quando (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)


 
Quando você esquecer de ontem
Lembre que o tempo passou
Quando você lembrar do tempo
Esqueça o que você deixou

As coisas e as palavras não ditas
As rosas e os gestos omitidos
Ficaram pra trás

Quando você procurar no passado
O que você deixou passar
Perceberá que já é tarde demais
Para recuar

As frases e os olhares perdidos
As dores e as outras saídas
Ficaram pra trás

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Silencio (os elefantes elegantes/Tony Lopes)


 Silencio sem sentido ou razão

 Pura escoria

 Silencio sem fé ou emoção

 Sem memória

 

Silencio que implora perdão

 Aos ouvidos

 Silencio que é indignação

 Eu duvido

 

Se for silencio sem opinião

 Será excluído

 Se for silencio por obrigação

 Não faz sentido

 

Se for silencio

 Apenas isso

 Caio fora

 E ligo

 Bem alto

 O toca-discos

 Insano

 E sigo.

 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Novamente (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)


Novamente
Estou aqui
Negando
Veementemente
Teu pedido
Tão urgente
Simples
E indecente.
 
 Novamente
 Estou aqui
 Desprezando
 Displicentemente
 Teu gemido
 Tão carente
 Triste
 E insistente.

 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Alçapão (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)

 
Desisto de insistir
Em inventar desculpas
Desisto de te ignorar
E de negar minha culpa

Desisto de fingir
E desviar da rota
Desisto de te iludir
Por temer a derrota

Duvido do que prometo
Sem nenhuma convicção
Não tenho mais o direito
De fugir do seu alçapão

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Noite em itapuã (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)


Sereno e lúcido
Olho o cair da tarde em itapuã
Tal como um viajante do tempo
Que não acredita no que vê
Porque o que está diante de mim
É um imã Que sorve para si
As imagens que um dia imaginei crer.

E vasculhando nos escombros da memória
Procuro sinais do que ainda está para nascer
Mesmo que esse tempo
Seja apenas um lapso da história
 
Mesmo que tudo termine ao anoitecer.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Cara feia (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)

                                             Não tenho medo de cara feia
Eu sei pra onde olhar
Não aceito os seus conselhos
Eu sei quando errar
E se for para tropeçar
Escolho a pedra que eu quiser.
 
Não tenho medo de cara feia
Já estou acostumado a encarar
Não aceito os seus argumentos
Prefiro nem escutar
E se for para brigar
Prefiro decidir por um outro qualquer.

 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Dentro do útero (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)


Medo se guarda nos olhos

Dentro do útero

Medo se guarda nas vísceras

Dentro de tudo

 

E quando ele sai para perambular pelo crepúsculo
Para visitar as sombras que lhe atormentam
Vultos se escondem nas entranhas da fé
Esperando que ele volte simplesmente são e salvo.

 

Medo se solta no vento

Nas curvas da estrada

Medo se cospe pra cima

E não se espera mais nada.

 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Trêmula (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)

Trêmula
A perna insiste
Em se deter
A um pequeno detalhe
Não sem antes
Hesitar.
 
Trêmula
A perna desiste
De procurar
Um novo atalho
E tombar não é mais
Uma opção.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O passo do elefante (Tony Lopes)


Sereno
O elefante passa
Sem pressa
Na sua frente.
 
Com seu passo
Firme
Com seu pulso
Forte.
 
Segue a trilha
Que um dia
O levará
A morte

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A beleza (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)

A beleza sempre esteve ali
Só você não conseguia ver
A ignorância imperava
Nos seus olhos frios.

E o remédio veio com o tempo
Em doses cruéis e eficientes
Rasgando o seu peito
Escancarando sua insensatez.

Quando enfim você conseguiu ver
Ela desfilava incandescente
Em outras paisagens
Sem, nem por um momento, te pertencer.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Despetalar (Tony Lopes)

 
Quero dividir tudo de ruim que há em mim
Repartir com você o meu pior
Quero domar a dor que me faz rir
Trocar essa angustia pela que está por vir

E amanhã seja que dia for
Quero roubar uma flor
Só para poder despetalar

Quero ofertar tudo que guardo em mim
Dentro das gavetas da aflição
Domesticar a dor que me fez partir
E abrir sem dó as portas da solidão

E amanhã quando noite for
Quero gritar de pavor
Só para poder te provocar.