segunda-feira, 30 de junho de 2014

Eles (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)

Eu nasci herói
Mas a covardia me fez vilão
Eu nasci ateu
Mas a hipocrisia me quer cristão
 
Eu nasci livre
Mas o estado me impõe a servidão
Eu nasci forte
Mas me obrigaram a pedir perdão
 
Eles
Os meus inimigos ocultos
Eles
Esses canalhas obtusos
 
Eu nasci pobre
Mas querem pôr uma arma em minha mão
Eu nasci honesto
Mas me obrigaram a andar na contramão
 
Eu nasci ignorante
Mas agora resolvi mudar a situação
Eu nasci derrotado
Mas preciso sobreviver a esta pressão.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Amor imundo (Tony Lopes)


Uma lágrima de cada vez

Devagar

Sem pressa

Até encher o balde

Alagar a sala

Inundar o mundo

Lavar a alma

E esse amor imundo.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Em uma noite (Tony Lopes)

Foi em uma noite de luar
Em pleno São João
Que aprendi que amar
É esquentar o coração 
Na brasa de uma fogueira
Ou numa dose de quentão
No ritmo da zabumba
E do estouro do rojão 

Asim como as estrelas brilham no céu
Os meus olhos brilham também
Mostrando para todos
O quanto eu te quero bem


sexta-feira, 20 de junho de 2014

O jogo (Tony Lopes)

Não tenho culpa
Se a bola não entrou
Que bateu na grave
Passou raspando

Não tenho culpa
Se foi pênalti
E o juiz não marcou
Se estava impedido
E não fez o gol

Você perdeu a partida
E a aposta
Mas a vida é um grande jogo
E disso você gosta

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Fazer (Tony Lopes)


A fé em quem faz mesmo que o feito não seja bem feito

A fé em quem quer mesmo que o querer não seja direito

 

Derrubar muros com os olhos

Arrancar ervas daninhas sem as mãos

Quebrar cristais com o silêncio

Ousar desobedecer

 

Fazer

Fazer

Fazer.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Olhos de arame farpado (Tony Lopes)


Olhos de arame farpado

Que rasgam

Dilaceram

Os resquícios da nobreza.

Olhos de arame farpado

Que atrapalham

Impedem

Afastam toda a beleza.

 

Que vivem aprisionados

E protegidos

Sem conseguir ver

O que não é permitido.

 

Olhos de arame farpado

Distantes

Delirantes

E sempre mal amados

Olhos de arame farpado

Doentes

Dementes

E fatalmente desprezados.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Senhora solidão (Tony Lopes)


A solidão é a melhor companheira

Para alguém como eu

Que insiste em crer no impossível

E com o que não ocorreu

 

A solidão é a melhor entre todas

As minhas frágeis opções

Mesmo que em alguns momentos

Devaste todas as ilusões

 

A solidão nunca foi infiel

Ela jamais me abandonou

Caminha sempre ao meu lado

Pelas sombras que me assombram

 

Ela me espera pacientemente

E sorri quase sem graça

Quando enfim me vê chegar

Pois sabe que outra vez perdi a caça.

 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Abatedouro (Tony Lopes)

 
Arraste a faca no meio da carne do animal que você se transformou

Arrance as vísceras do porco que você sucessivamente foi

Aperte o nó da gravata do imbecil que você sempre superestimou

Aperte o gatilho e dispare no homem sem nome

e depois

Deixe que os vermes cumpram o seu importante papel.

 

Você agora tem um lugar reservado

No ambiente usado para abate de reses

Sorte de quem não precisar consumir

Sua carne putrefata, sua alma de barata

Nem o seu cérebro com gosto de fezes.


terça-feira, 10 de junho de 2014

Tudo branco (Tony Lopes)


Eu preferia o teu corpo
Estendido languidamente
No lençol ainda branco
E imaculado
 
Eu preferia o teu cheiro
Impregnando o ar
Do quarto de paredes brancas
E abajur lilás
 
Eu preferia a noite escura
Que invadia as frestas brancas
Da janela de Madeira
Dura como a vida.
 
Eu preferia tua presença
Cheia de mistérios brilhantes
Como a luz da lua branca
A desenhar miragens

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Herói de brinquedo (Tony Lopes)

 
Cansei, belezinha
Não vou salvar o mundo pra você
Procure outro herói
Ou melhor dizendo: outro idiota.
 
Vou usar os meus poderes
Em outra casa, outra cama
Em outro lugar
Você quis assim
Me provocou
judiou de mim
e me fez voar
 
Tchau, belezinha
já não sou mais teu herói de brinquedo.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O rei é réu (Tony Lopes)


O rei deu um tiro no pé

Não foi na perna de pau

Na que sempre escondeu

Por medo ou vergonha

E sim por ignorar a dor

De quem sempre o acolheu.

 

O rei rasgou as paginas do livro

Gritou palavras sujas

Boicotou as suas memorias

Ofuscando a sua arte

Abdicou assim da majestade

Ferindo a própria historia.

 

O rei calou a voz

De quem sempre escutou a sua

Com uma verdade distorcida

Disse para todos os súditos

O que apenas lhe servia

Ignorando a sua própria vida

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Todos os santos (Tony Lopes)

Todos são santos
Mesmo que sejam tontos
Mesmo que não sejam tantos
 
Todos são santos
Mesmo que não estejam prontos
Mesmo que acuados nos seus cantos
 
Todos são santos
Porém apenas os prantos
Devolvem a razão
 
Todos são santos
Mas apesar de poucos encantos
Eu também sou, porque não.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

O medo e a cidade (Tony Lopes)

 
Seu medo ecoa nas praças e ruas
Nuas desta cidade sem lei
Seu medo voa pela avenida
E alicia a dor para te acompanhar
 
Entre o tombo no asfalto
E o assalto a sua coragem
São poucos passos
Que te separam da imagem
Estampada nos jornais de amanhã
Em meio a frases prontas
 
Seu medo arrepia a pele
E consegue te deter
Seu medo adiciona a vida
Um gosto amargo de coisa perdida
 
Os olhos que te observam
Vagam solitários procurando
O que já era teu
Certos que estão
De não haver mais cura
Nem castigo para essa podridão.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Em açúcar (Tony Lopes)

Esqueça da sua vida amarga
Deixe de preocupação
Eu me transformo em açúcar
Para adoçar o seu coração
E se ainda assim
A tristeza persistir
Visto minha fantasia de palhaço
Para te fazer sorrir.
 
Cobertos com a lona velha do circo
Vamos criar um novo espetáculo
Cobriremos um céu tenebroso
Com estrelas de concreto
E entre mágicos e bailarinas
Dançaremos ao entardecer
Como artistas saltimbancos
Apenas eu e você.
 
 
 


segunda-feira, 2 de junho de 2014

Negra noite (Tony Lopes)


Cada vez que os meus olhos invadem

O negrume da noite a procura

De alguma distração

Ou de algum alívio

Para essa angustiante solidão

São os seus olhos que eles desejam.

 

Cada vez que os meus lábios se abrem

Para proferir palavras

Sem nenhuma convicção

Ou algum sentido

Para acalmar meu alucinado coração

São os seus ouvidos o alvo preferido.

 

E se a noite envolver o seu negro manto sobre nós

Sem necessariamente nos cobrir

Atravessarei cambaleante a triste rua

Que me conduz sempre ao mesmo botequim

Onde embriagado imagino você nua

Em alguma espelunca que nunca irei encontrar.