sexta-feira, 30 de maio de 2014

Manter a ordem (Tony Lopes)


Quem é dono de que?
Quem manda em quem?
E se te mandarem bater?
Será que você bate também?

Quem é o dono da terra?
Quem manda alguém plantar?
E quando for a colheita?
Quem é que vai lucrar?

Quem ensina a quem?
Quem pisa e quem provoca a reação?
Quem estimula à revolta?
O político ou a população?

Se a bala for de borracha
Será que você vai encarar?
E se o soldado cair
Será que em sua cara você vai cuspir?

No fim da luta quem será o vencedor
O que tombou no campo ou o que nem lutou?


E de longe sorrindo em seu gabinete
Algum safado se prepara pra mandar descer o cacete.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Olhos covardes (os elefantes elegantes/Tony Lopes)



 

Olhos que não veem além do obvio

Que não enfrentam o perigo

Olhos que fogem das tempestades

Que se escondem no abrigo

 

Esses olhos são olhos perdedores

Iludidos e sem nenhuma cor

São olhos desertores

Que abdicaram do amor

 

Olhos que só veem através do ódio

Que quase nunca nos encaram

Olhos que se esquivam das verdades

Que nada reparam

 

Esses olhos são olhos covardes

Frios e sem sinais de luz

São olhos detratores

Apedrejadores da cruz.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Cicatriz (Tony Lopes)

A mão desliza macia
Sobre a cicatriz
Ali onde havia paz
Hoje jaz a alegria
 
E um sorriso se esconde
Nas curvas do passado
La onde adormecia
O que o futuro não esperava
 
E a dor soava como uma triste canção
Quase uma valsa
Quase sem graça
Uma grande desgraça
Alojada no seu pobre coração

terça-feira, 27 de maio de 2014

Insista nos erros (Tony Lopes)

 
Desista de pedir desculpas
De dizer que errou
Insista nos seus deslizes
Sem fingir que perdoou
 
 Desista de consertar
 O que já se quebrou
 Insista em desprezar
 Mas não recue sem impor
 
Alimente o seu ego
O seu amor cego
Assuma o risco
Mas não corra perigo, por favor.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Manchete (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)

Você finge que eu não existo
E insiste em me ignorar
Mas eu posso seguir sozinho
Sem ao menos te enxergar

Indiferentes e de lados opostos
Somos o antídoto um do outro
Desprezando o que parece obvio
Nos igualamos no mesmo desgosto

E amanhã seremos apenas restos
Ignorados pelos que ignoramos
Apenas um retrato opaco
Na manchete dos nossos desenganos.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Desça (Tony Lopes)


Desça desta cruz

Deixa de lado sua dor

Reavalie seus conceitos

Experimente outro sabor

Vem provar o gosto do pecado

Envenenar o seu torpor.

 

Desça logo deste altar

Deixa de presunção

Ignore a segurança

Abdique da solidão

Vem mergulhar nos devaneios

Se embriagar de ilusão.

 

Abandone os seus discípulos

E os sermões falados ao vento

Entenda os novos problemas

Reveja seus pensamentos

E se nada voltar a acontecer

Pode recuar pro seu isolamento.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Vira lata (Tony Lopes)


Sou um vira lata

Um cachorro louco

Sou um cão sem dono

Vil e escroto.

Sou um bicho mau

Sou um animal

Não tenho pedigree

Vivo a te perseguir.

Sou uma fera

Sou o seu algoz

Um grande predador

Perverso e feroz.
 

Sou o seu avesso

Quero o que mereço

Sempre a espreita

Mordo e nunca esqueço.

 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

A besta fera (Tony Lopes)


Rasteja como um verme pelas sombras que nutrem o mal
Planeja como uma víbora o momento exato para dar o bote
Deseja como uma amante infiel que a escuridão lhe proteja
Anseia o ódio que o alimenta e o torna sempre mais voraz.
 
- Enquanto os inocentes se divertem sem saber da dor que está por vir.
 
Mesmo que naquela face esteja escancarada toda bestialidade
Encontra quem o valha a perpetuar a sangrenta maldição
Com olhos de serpente que exacerbam toda a sua estupidez
Arranca da garganta um grito que retumba todo o pavor.
 
- Enquanto a lua esvanece em um céu sinistro e aterrorizante.

 

terça-feira, 20 de maio de 2014

A tal felicidade (Tony Lopes)

 
Ela distribui beijos a granel
Com gostinho de felicidade
Deixando o vento anunciar
Ao mundo a grande novidade
Já não há mais desculpa para sofrer
Agora todos poderão desfrutar
Ao menos por um instante
Uma dose generosa de prazer.
 
 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Cale-se (Tony Lopes)


Cale-se
A você não é dado o direito de falar
Cale-se
A você não é dado o direito de reclamar
Cale-se
Fique mudo
Aceite as regras
Acate as ordens.
 
Cale-se
Porque para eles você sempre esta errado
Cale-se
Porque você agora esta cercado
Cale-se
Ouça tudo
Aceite os erros
Acate as normas.
 
Cale-se
Antes que tenham que te calar
Cale-se
Antes que te obriguem a calar
Cale-se
Cale-se
Cale-se.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Preço da prece (Tony Lopes)

Não creia em milagres
Que você mesmo pode pagar
Nem em falsas promessas
Que te impedem de pensar
 
Não idolatre deuses
Que cobram por algum favor
Nem em templos
Onde tudo tem um valor
 
Não confie em profetas
Muito menos em pastores
Não acredite em padres
Nem nos seus tolos seguidores
 
Não pense que é pecado
Duvidar da oração
De quem idolatra o dinheiro
E cobra pela sua salvação
 
Se a prece tem preço
Opte por outra solução
Siga o seu caminho
Ouça apenas o seu coração

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Áspero (Tony Lopes)


Homens beijam homens

E deixam abertas as portas

O que ontem era vergonha

Hoje se insinua por outras rotas

 

De mãos dadas em pleno shopping

Riem das caras ultrapassadas

O que pros tolos era vulgar

Pra eles são duas almas entrelaçadas

 

Áspero

O amor pode às vezes

Parecer áspero

 

Mulheres beijam mulheres

E posam nas paginas principais

O que antes eram doces pecados

Hoje não passam de taras normais

 

De mãos dadas na praça central

Fazendo tudo o que vier na telha

O que para uns é calmaria

Para elas é mais que uma nova centelha

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Escrúpulo (Tony Lopes)



Perdi o escrúpulo depois do ultimo coice

Da ultima sacanagem

Da ultima traição

Depois que os pretensos amigos

Abandonaram a viagem

Trocaram a direção.

 

Perdi a vergonha depois que me expuseram

Ao ridículo

Que outra vez me expulsaram

Da mesa do bar

Desprezaram a minha vida

Apertaram a minha ferida.

 

Perdi o escrúpulo depois da ultima ofensa

Da ultima calúnia

Do ultimo esporro

Depois que os falsos fugiram como ratos

Desistiram do trato

Ignoraram meu pedido de socorro

 

 

 

terça-feira, 13 de maio de 2014

Esperando (Tony Lopes)



Já faz tanto tempo que não corto os pulsos

Que não sorvo veneno

E não dirijo na contramão

Que não beijo a boca da morte

E que não peço perdão.

 

Já faz tanto tempo que não salto no precipício

Que não brinco de roleta russa

E não ignoro a razão

Que não atiço a fera com vara curta

E não renego a oração.
 
Faz tanto tempo que não tento acabar com a solidão.


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Tempo do pensamento (Tony Lopes)


Jovem demais para entender que o tempo é mais veloz que o pensamento

Velho demais para perceber que não há mais tempo para o pensamento.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Nação (Tony Lopes)


Aos revoltados um copo de leite

Aos direitistas uma nova senzala

Aos esquerdistas meia volta volver

Aos indecisos o direito a omissão

 

Aos revolucionários de apartamento

Aos libertários de meia tigela

Aos acomodados das poltronas

E aos indecisos o dever da omissão

 

Aos black-blocs dos shoppings

Aos bagunceiros de encomenda

Aos indignados de araque

Aos mentores da nova revolução

 

Para mim e para você

Apenas o que sobrar desta miserável nação

quarta-feira, 7 de maio de 2014

A outra face (Tony Lopes)


Cuspa no prato que comeu

Beije a mão de quem te traiu

Rasgue o contrato

Mande tudo pra puta que pariu

 

Faça justiça com sua própria mão

Ofenda quem quiser se opor

Escreva um poema

Descreva com rima todo o horror

 

E se um dia quiserem te cobrar

Entenda tudo que aconteceu

Ofereça a outra face

Aceite a verdade só você perdeu

terça-feira, 6 de maio de 2014

Meteoritos (Tony Lopes)


Fragmentos de asteroides vagam sobre minha cabeça

Trazem poeira e solidão de lugares distantes

Nenhuma mensagem cifrada

Nenhum sinal do que foram antes.

 

Vagam perdidos em nuvens de chumbo e ilusões

Deixam rastros de fogo e paixão

Dizem algo que não podemos entender

Mesmo que em nós exista a razão

 

Desintegrados em meio ao caos dos anseios

Queimam a logica e invertem sinais

Tão loucos e insanos bailam na contra mão

Abrindo sem dó os novos e estranhos portais.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A pior dor (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)


A pior dor
É a sutil
A que quase não dói
A que chega suave
A que passa de raspão

A pior dor
É a que não mata
Mas a que machuca
Deixa rastros
Insinua sua presença

A pior dor
Não faz chorar
Apenas brota
Discreta e displicente
E dilacera.

A pior dor
É suportável
Mas penetra
E envenena
Todas as possibilidades.