segunda-feira, 30 de março de 2015

A solidão é um cão (Tony Lopes)


A solidão é uma jaula
No jardim sem lógica da decepção
Uma armadilha
Um pássaro preso no alçapão
A solidão é uma arma
Apontada para o próprio coração
Uma saída
Um choque frontal na contramão
A solidão é uma certeza
Ignorada pela multidão
Uma adaga
Um cadafalso da ilusão
A solidão é um porto no deserto
Rota trocada pela indefinição
Um aeroporto sem teto
Uma estratégia do caos para a colisão

(A solidão
Tal qual um cão
É fiel

E nunca te abandona)

sexta-feira, 27 de março de 2015

Não se atreve (Tony Lopes)

Não se atreve a roubar trevo de quatro folhas
Não se atreve a atravessar a travessa escura
Não se atreve a mergulhar nas trevas
Não se atreve a acertar a trave e perder o gol

Não se atreve a viver em constante perigo
Não se atreve a morrer por um amor bandido
Não se atreve a ver a vida com olhos de lebre
Não se atreve a suar de frio e gozar na febre

Vê a vida passar diante dos olhos de presa acuada
Acha tudo uma grande roubada
E espera sempre sentada na cadeira errada
Acha que assim no fim será poupada

Então não se atreva a mexer comigo
Esqueça que algum dia fui teu amigo
Víbora
Vil
Má.

Não se atreve nem a me contestar.

quarta-feira, 25 de março de 2015

4 x 1 (Tony Lopes)

O silêncio fede
E deixa sinais invisíveis
 Às vezes pede
 Em canções inaudíveis
 Mas mudo
 O grito é um muro
 Que divide
 Sem ser seguro.

O ruim
Não é dividir
A maçã...
O pior
É não saber
Quem comerá
A banda podre.

Pra puta
O gozo
É a certeza
Do pagamento.

Você deve saber
Que o erro

É o meu prazer.

segunda-feira, 23 de março de 2015

sexta-feira, 20 de março de 2015

Olhos de peixe (Tony Lopes)


Seus olhos são como aquários
Onde peixes nadam sem sair do lugar
Uma viagem ao centro da terra
Um vulcão disposto a despertar

São armadilhas que brilham
Como os anzóis cintilam no mar
Uma escalada nas montanhas
Um mergulho espetacular

Seus olhos são como jaulas
Onde leões mal conseguem andar
São como as chamas de um incêndio
Como um barco a naufragar

São como pescadores ferozes
Com seus arpões prestes a acertar
Uma tempestade no copo d’água
Olhos de peixe a nos observar

quarta-feira, 18 de março de 2015

Dentro da cabeça (Tony Lopes)


Não me basta o silencio
E a ausência de ar
Nada cala a dor e os gritos que ouço dentro
Da minha cabeça.

Não me serve o vazio
E os olhos vendados
Nada me impede de ver coisas esquisitas dentro Da minha cabeça.

O labirinto de dores e cores e luzes e sabores
Numa espiral sem fim
Nada pode deter o que esta dentro
Da minha cabeça

Vazia.

segunda-feira, 16 de março de 2015

O mal (Tony Lopes)

Construir um muro
Com as sobras da luxúria
Erguer paredes
Com os restos do opressor
 
E se defender do mal
Com o mal
 
Construir verdades
Com as mentiras impostas
Erguer bandeiras
Com as cores do inimigo
 
E atacar o mal
Com o mal
 
 
 

sexta-feira, 13 de março de 2015

Presumidamente (Tony Lopes)

Tudo previsivelmente simples
Como uma canção
De amor

Tudo presumidamente chato
Como um refrão
De bolero

E nós ali
Sentados lado a lado
E sós

quarta-feira, 11 de março de 2015

Angustiado (Tony Lopes)


Ansioso & Inquieto
Furioso
Furioso.

Carente & Sofredor
Demente
               Demente
Demente.

Atormentado & ameaçado
Angustiado
                       Angustiado
              Angustiado

Angustiado.

segunda-feira, 9 de março de 2015

O samba vai guiar (Tony Lopes)


O seu desprezo Me fez bem forte
Sequei meu pranto Não te culpo mais

Já esqueci O meu orgulho
E beijei o chão Que você sambou

Agora vou lembrar daqueles dias
Onde a alegria Era a rainha do salão
Daquelas noites Com confetes
Onde eu desfilava No seu coração

Cansei de negar
Que sou o bamba
De fugir da dança
E do embalo do samba

Chega de querer ofuscar Essa chama 
Que incendeia
De querer ser sempre O que reclama
E não semeia

A semente que brota
E cresce faceira no terreiro
Que espalha o seu sabor
Pelo mundo inteiro

Agora posso enfim aceitar
Que é o samba

Quem vai sempre me guiar

sexta-feira, 6 de março de 2015

Não era amor (Tony Lopes)

Não era amor
Era um aperto
Taquicardia
Uma dor no coração

Não era amor
Era uma carência
Desesperança
Uma ânsia de respirar

Não era amor
Era uma angústia
Tristeza
Um delírio sem razão

Não era amor
Era um remorso
Saudade

Um ingênuo anseio de regressar

quarta-feira, 4 de março de 2015

Vários (Tony Lopes)

Entre 
O silêncio
E o Silêncio
Um
Breve   
Instante
Vazio.


Se ainda não é tarde
Espere anoitecer


Pra que uma multidão
Se a solidão
Mora só.

Todo Deus
É
Um pouco
Ateu.

Menos Eu, menos Eu.


Mãe é foda
Pai é o caralho, creia


segunda-feira, 2 de março de 2015

Amor perfeito (Tony Lopes)


Riscou o seu amor na minha cara de pau
Com estilete
Gritou que o seu amor não é de carnaval
Nem de confete
Bateu bem forte no peito e quase sem jeito
Disse que não suporta amor perfeito.

Rasgou o seu amor como uma folha de rascunho
Bem desprezível
Bradou que o seu amor não é passageiro
Nem dirigível
Partiu para bem longe do que é direito
E repetiu que odeia amor perfeito

Agora vaga na noite satisfeita e nua
Não diz que é infeliz
Nem que é perfeita
Apenas foi seduzida e seduziu
Fingindo crer no amor

Mas mandou tudo pra puta que pariu.