sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Autopsia (Tony Lopes)


Queria ser o bisturi

Que invade o teu corpo inerte

Ser a tua a sombra

Ou a tua coberta no frio da pedra

Queria ser a mão

Que retira as tuas vísceras

Que te revira

Ou apenas os olhos que te vasculham

Queria ser o riso triste

No canto da sua boca

Queria apenas ficar ali

Perto da sua ausência

Queria ser tudo que não sou

Apenas por um segundo

Para ser você

E sentir tudo que você sentiu.

 

 (e se puder ler isso, por favor, entenda)

 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Alto da cruz (Tony Lopes)


 

Distribua beijos aos traidores

E use uma coroa de espinhos

Alastre seu amor aos pecadores

Verás que não estás mais sozinho

 

No alto da cruz a dor é amena

O sangue congela a vida é plena

Porque a alma nunca é pequena

E se eleva sempre suave e serena

 

Restitua aos inimigos o que eles almejam

Sem esperar qualquer recompensa

No fim do combate uma doce certeza

Que sobreviverá ao lado da sua tola crença

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Nuvens carregadas (Tony Lopes)


 

Nuvens carregadas

Num céu não tão mais azul

Trilhos estragados

E trens esquecidos na estação

 

O meu coração

Pobre coitado

Bate desgovernado

E Procura sentido

Por ter escolhido

O caminho errado

 

Entre chegadas e partidas

Espero paciente

Que em algum vagão

Encontre novamente

Aquela que um dia

Acelerou meu coração

 

Uma vida inteira

Parado a te esperar

Meu bem

Perdido no tempo

Nunca mais te vi chegar

Naquele trem

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Cadela (Tony Lopes)

Desista de cravar
 Seus dentes
 Na minha perna
 Não quero ouvir seus latidos
 Nem sentir o seu despudor
 Cadela
 Larga o osso
 Pare de lamber as feridas
 E abanar seu rabo
 Não vou mais te alimentar
 Nem te aquecer
 Resista à tentação
 De me atacar outra vez
 Vagabunda
 Ouça-me:
 Eu não te quero mais!

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Os nós (Os elefantes elegantes/Tony Lopes)


Apenas desfaça os nós

Que nos uniam

Desfaça os passos

Que nos trouxeram ate aqui

Apenas desfaça a cama

Em que deitava-mos

Desfaça a trama

Em que éramos os tais

 

Agora não há mais nós

Estamos de novo sós

Não há mais sol

Só alguns raios de solidão

A aquecer

O nosso antigo lençol.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Absurdos (Tony Lopes)


 Absurdos

Saem das gavetas

E rastejam como baratas

No meu cérebro.

Absolvo

Os obsoletos

E agradeço aos hipócritas

Tamanha gentileza.

 

Tanta gente falsa e estúpida

Que não sabe mentir

Ou fingir

São piores que os ratos

Piores que as cobras

Que nem estão aqui

 

Absurdos

Pulam das estantes

Como pulgas asquerosas

E riem.

Abandono

Por instantes a lucidez

E absorvo

O doce silêncio dos insensatos

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Dias (Os elefantes elegantes/Tony Lopes)


 

Ontem

 Mil anos atrás

 Tudo parecia certo

 E real

 

 Hoje

 Mil anos antes

 Tudo parece triste

 E igual

 

 Amanhã

 Mil anos depois

 Ainda restará

 O sonho.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O fim (Tony Lopes)


Desligue o botão

Retire os fios

Desfaça a conexão

Delete tudo.

 

É o fim

Do jeito que você nunca sonhou

Anteriormente.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Convite ao medo (Tony Lopes)


Metade do meu medo

Rasga a noite como uma faca

A outra mais calma

Desliza como uma gilete nas sombras.

 

E trôpego sigo

Desviando das balas

Que sibilam nas entranhas

E bêbado deliro

Delicias que se escodem

Na minha boca avida e vadia.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Barulho e caos (Tony Lopes)


 

Ainda procuro respostas que creio estejam perdidas

Em meio ao barulho e ao caos

Ainda espero respostas Que creio jamais serão ouvidas

Em meio ao barulho e ao caos

 

Não acho possível escutar o que quero

Não acho viável que digam o que quero

Estamos todos envoltos em uma nuvem negra

De barulho e caos.

 

Os amplificadores estão altos e distorcidos

A balbúrdia parece fazer algum sentido

Mas no fundo dos olhos não vejo razão para crer

Nesse barulho e caos.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Gosto do gozo (Alisson Lima/Tony Lopes)




Enquanto jovens barbudos brincam de ser

Velhos baianos cheios de bossa

Velhos baianos recriam o novo e mandam

Todo o resto pra dentro da fossa

 

Não vou deixar meus cabelos brancos

Te iludir

Eu vou tentar mudar o teu jeito obtuso

De sorrir

 

Enquanto tolos rogam aos céus em nome

De um deus qualquer

Os céus se enchem de fúria e ódio

Sem dar trégua um dia sequer

 

Não vou deixar os meus fracassos

Me deter

Eu vou tentar rever os fatos

Antes de morrer.

 

(e se tudo isso lhe parecer uma coisa louca

Saiba que eu ainda guardo o gosto do gozo

Na boca)

 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O profeta (Os Elefantes Elegantes/Tony Lopes)


Uma garrafa de vinho barato
E os milagres acontecerão
Na mesma mesa em que o prato
É apenas uma mera visão

E no deserto meus pés vão encontrar
Os rastros ou algum sinal
Porque o oceano que eu atravessei
Não conseguiu me afogar

Juntos aos Discípulos
Que com toda certeza aparecerão
Dividiremos em mil pedaços
As migalhas do mesmo pão

E ao olhar pro céu poderemos ver
Uma estrela sem direção
Então todos os olhos irão entender
Que tudo sempre esteve na sua mão.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Em círculos (Tony Lopes)


A mentira se equilibra no fio tênue dos que querem acreditar que a verdade serve apenas para iludir a crença dos que deviam duvidar

 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Defeitos (Tony Lopes)


São os meus defeitos

Que me fazem crer na perfeição

Que tanto desejo

Tanto almejo

São os meus defeitos

Que podem me dar à explicação

Que tanto espero

Tanto venero

 

Enquanto procuro ver

O obvio que se esconde

Nas entrelinhas.

 

São os meus defeitos

Que podem me indicar com perfeição

A rota apropriada

Para recomeçar a jornada

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O licor (Tony Lopes)


 

O sangue é um licor

Suave

A embriagar as veias

E aquecer o coração

 

 Um leve torpor

 Trafega

 Pelas estradas do corpo

 Sem pressa

 

O saldo é o amor

 Que suspira

 Nos doces e grandes lábios

 Num gozo

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Tudo que necessito (Tony Lopes)


Não precisa me dar o que eu já possuo

Nem me pedir de volta o que nem deu

Eu sou tudo que necessito

E tenho um mundo inteiro nas mãos.

 

Não precisa me roubar o que te dei

Nem me implorar para te absolver

Eu trago tudo que necessito

E tenho uma vida inteira nas mãos.

 

Desista de me oferecer o que já é meu

Insista mas não vai me ver embolsar

Desista não é isso que eu preciso

Insista mas nada seu vai me conquistar

 

Não precisa me curar desta moléstia

Nem me pedir para mudar de fé

Eu sou tudo que necessito

E tenho o poder absoluto nas mãos

 

Não precisa me arrancar do cárcere

Nem me beijar com gosto de traição

Eu tenho tudo que necessito

Trago o perdão em minhas próprias mãos

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Make-up do diabo (Tony Lopes)


 Mulher é coisa do diabo

Que se esconde na encruzilhada

- Maquiada

Mulher é coisa do diabo

Que se insinua na madrugada

- Maquiada.

 

A cara da fera é tão bela

Que quase assusta

O corpo da bela lhe espera

Sempre astuta

E o tolo cai no bote da serpente

E quase não percebe

Que foi devorado

O seu pobre coração decadente.