Tremulo pude ver tudo mais claramente
Nada que havia acontecido era real
Nem o medo e a dor incessante
Nem o cheiro de merda no ar
Tremulo pude caminhar impunemente
Nada na calçada podia me derrubar
Nem o gosto amargo de ontem
Nem o sabor azedo dentro de mim
Procurei no bolso algum pedaço de papel
Ou o resto das sobras de meus vícios
Mas não havia vestígios do que passou
Nem rastros que me distanciasse dos ratos
Nem lembranças nem certezas nem cicatrizes
Nada que pudesse me devolver a sanidade
Mesmo sabendo que nunca a tive
Mesmo sabendo ser o traste que sou
Tremulo pude seguir livremente
Despido dos pecados que com certeza cometi
Lúcido e ciente das virtudes que não tenho
Com os olhos vermelhos vidrados no abismo
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